quinta-feira, 7 de julho de 2011

A Cegueira e a Ditadura do Consumidor

Ensaio sobre a Cegueira
(Blindness) Brasil, Japão, Canadá / 2008 
Direção: Fernando Meirelles
Elenco: Julianne Moore, Mark Ruffalo, Alice Braga, Danny Glover, Gael García Bernal, Sandra Oh, Don McKellar, Maury Chaykin, Yusuke Yseya,
Nota=**


José Saramago, único escritor em língua portuguesa ganhador do Prêmio Nobel entre outros louros sempre foi contra a adaptação de sua obra para o cinema, em especial se sua obra fosse adaptada em um filme hollywoodiano, portanto houve certo choque quando foi anunciada a adaptação de Ensaio sobre a Cegueira  pelo diretor Fernando Meirelles; certo é que havia interesse de Saramago em ver sua obra na visão de outro autor, e realmente e impressionante ver como o diretor usa as imagens para traduzir a cegueira que na trama não é só metafórica, mas uma cegueira física que sem razão aparente ataca toda a humanidade.
A fotografia nas cenas mais escuras beirão o preto total e nas cenas mais luminosas a intensidade da luz e aumentada nós impedindo de ver praticamente tudo em cena, justamente a luz se relaciona com a cegueira que é completamente branca, “como se alguém tivesse acendido todas as luzes ao mesmos tempo”, e se luz representa o conhecimento que destrói as trevas da ignorância quando todas as luzes se acedem elas simplesmente se anulam.
A cegueira que interessa a Meirelles e a do individuo sobre seu próximo, tanto quanto no livro como no filme não existe Maria, Jose ou Lucas, mas o empresário, a prostituta, o ladrão. Há quem diga que essa visão da pessoa não como um individuo, mas como um objeto de seu trabalho e apenas um comentário sobre o tratamento do governo a população, e não deixa de ser, mas são as pessoas que se apresenta  a os outros pela sua profissão e não pelo nome, como se a individualidade de cada um não fosse importante para quem estiver ao seu lado.
Na adaptação de obra de uma mídia para outra, no caso da literatura para cinema é esperado que se faça mudanças no texto, mas o que mudar sem que o espírito do livro (ou da peça, da HQ, da serie) se perca? No filme assim como no livro a escatologia quase choque, mas somente no livro isso não ocorre de maneira gratuita, Saramago não vê monstros mas seres humanos em extremos no livro o leitor sente esses extremos no filme não.
Antes de ser lançado o filme passou em varias sessões teste para o público nos Estados Unidos onde o publico desaprovou o filme, uma das reclamações era a violência excessiva, tudo bem, pois muita violência cairia no gratuito, outra e de que o filme era muito “difícil” para o publico, mudanças foram feitas, logo mais  para o final foram inseridas narrações em off que simplesmente repetem o que Meirelles já tinha afirmado com imagens, além disso tudo foi suavizado tirando a força das mensagens de Saramago.
Quanto do autor, tanto Saramago como o Meirelles, sobra de um filme desses? Quando cai na mão do estúdio, esse faz de tudo para agradar um público pouco exigente da forma mais ampla possível inserindo respostas fáceis de serem assimiladas e totalmente mastigadas que não trazem nada de novo; momentos chaves, como o do cão feroz que lambem as lagrimas da mulher do medico e aqui é substituído por um vira-lata fofinho, são modificados para deixar o público mais confortável.

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